Texto originalmente publicado no Fala Livros

O nome do livro já é polêmico. O subtítulo, então, pior: "Utopia, subversão e guerrilha na (anti) arte do século XX. Mas o livro está longe de chocar. O que ele faz é mostrar como diversas pessoas ao longo do século XX buscaram construir alternativas ao que era (ou é) considerado arte.

Inicialmente, Stewart Home busca definir o conceito de arte, para, então, descrever aqueles que tentaram combatê-la. E, como ele mesmo explica, a "luta contra" a arte não envolvia apenas esta batalha, mas, também, uma oposição ao capitalismo consumista. O mais interessante é que, por mais que as obras destes artistas jamais poderiam ter existido fora do sistema que eles combatiam, eles conseguiram criar obras tão díspares e intrigantes. Obviamente, muitas foram adaptadas e aproveitadas em outras obras – algumas completamente em contradição com o desejo dos autores.

É interessante ver Home definir a arte como algo que, "tanto na prática quanto no conteúdo, depende de gênero e de classe". Com isso, ele acredita que o papel de artista é limitado àqueles que estão na alta sociedade, com esta sociedade reservando a condição de louco para os que não possuem uma condição financeira elevada. Nessa mesma linha, Home define que somente os homens são artistas que podem ser considerados geniais por reproduzirem sentimentos femininos (como sensibilidade). E quando as mulheres reproduzem o comportamento masculino na arte são consideradas histéricas.

Assim, o livro começa, embora sem capítulo especial, com o Futurismo e o Dadaísmo, classificando o primeiro como uma virada na tradição sobre a arte, já que, ao contrário dos movimentos anteriores, rompia com o passado e buscava uma arte voltada inteiramente para o novo século. Depois, passa ao Dadaísmo, citando trechos do movimento onde um dos integrantes "exigia a introdução progressiva de mais tempo livre através da mecanização gradativa de todos os campos de atividade" e o estabelecimento "de um conselho dadaísta para a remodelagem da vida em todas as cidades com mais de 50 mil habitantes".

De certa forma, não há como deixar de condenar a arrogância. Entretanto, é inegável a preocupação em romper - ou pelo menos pensar a respeito - sobre a maneira como a sociedade se organizava. Assim, nesta mesma linha, o Dadaísmo abriu as portas para a anti-arte do século XX (“Utopismo com a arte”) ao defender que "o dadaísta considera necessário ir contra a arte, porque ele enxerga além da fraude da qual a arte é uma válvula de segurança moral. (...) Toda arte deve ser destruída, e o Dadá apoia essa destruição com toda a veemência de sua natureza limitada".

E é a partir daí que as dezenas de movimentos que surgiram vão se organizar. E mesmo que você não concorde com o que foi escrito (como é o meu caso, em muitas partes), é difícil deixar de apreciar o trabalho de gente que produziu obras que estavam muito além do seu tempo e que foram absorvidas depois (como é o caso dos Situacionistas e do Punk, por exemplo).

E se a arte é, na maioria das vezes, o trabalho de um artista que busca encontrar respostas para determinados questionamentos ou dar interpretação diferente sobre algum assunto que concerne ao próprio autor ou ao seu ambiente, cidade, país ou mundo; a anti-arte é, também, uma forma de arte, quer seja ela uma carta em branco postada aleatoriamente ou telas de setenta metros que podiam ser usadas como tecidos para roupas ou na construção de uma arquitetura móvel.

Assalto à Cultura é um livro sobre a arte.

Editora: Conrad
Autor: Stewart Home
Ano: 1999
Páginas: 200

OBS: Dá para achar por 10 reais em muitos lugares. Eu já comprei esse livro quatro vezes para presentear amigos.